Estão em todo lugar, fazem muito, mas só agora ganham autonomia para decidir.
Imagine a cena: você chega ao posto de saúde com uma dúvida simples — deseja medir a pressão, fazer um eletrocardiograma ou receber orientação nutricional. Ao invés de enfrentar uma longa fila para ver um médico, é acolhido prontamente por uma enfermeira clínica geral capacitada, que não apenas realiza os procedimentos com excelência, mas também orienta com base científica.
Essa cena é realidade em alguns municípios, mas deveria ser o padrão do SUS em todo o país.
Durante décadas, vimos médicos sobrecarregados e pacientes desassistidos. Consultas rápidas, filas quilométricas e ausência de visitas dos Agentes de Saúde são sinais claros de um sistema que falha no básico. Mas agora, uma revolução silenciosa começa a mudar esse cenário, reposicionando a figura do enfermeiro como um verdadeiro pilar da saúde preventiva.
O que muda na prática
Segundo novas diretrizes e iniciativas estaduais e municipais, os enfermeiros de clínica geral — especialmente os com nível superior, pós-graduação ou formação como Praticantes Avançados — passam a assumir novas funções que antes eram exclusivas dos médicos:
Aconselhamento em saúde: Nutrição, atividade física, abandono de vícios, planejamento familiar, amamentação e saúde mental.
Procedimentos clínicos: Desde aferição de pressão até espirometria, otoscopia e testes rápidos.
Vacinação: Aplicação de imunizantes conforme o calendário oficial, com possibilidade de atuação independente em protocolos simples.
Monitoramento de grupos especiais: Acompanhamento de gestantes, crianças até 4 anos e grupos de risco, com registro eletrônico assinado digitalmente pela própria enfermeira.
Além disso, muitos estão habilitados a prescrever medicamentos básicos, conforme protocolos locais, sobretudo em locais com escassez de médicos.
O impacto direto na população
Esse protagonismo reduz filas, agiliza diagnósticos e fortalece a prevenção — especialmente nas regiões mais carentes. Enquanto o médico se concentra nos casos mais complexos, o enfermeiro atua como primeiro contato resolutivo.
Formação e estrutura: o desafio agora é investir
Para garantir que essa transição funcione, é necessário:
Continuar a formação técnica e humana dos enfermeiros, com foco em liderança e saúde mental;
Criar ambientes colaborativos nas UBS, com respeito mútuo entre médicos e enfermeiros;
Garantir estrutura física, equipamentos e conectividade digital nos postos de saúde;
Ouvir os próprios enfermeiros, reconhecendo seu protagonismo na reformulação da Atenção Primária.
O novo SUS exige coragem
É chegada a hora de romper com o modelo hierárquico ultrapassado, onde o médico é o centro e os demais orbitam ao redor. A saúde moderna é feita por equipes interdisciplinares, onde todos têm voz, espaço e responsabilidade.
Convite para o próximo artigo
No próximo conteúdo especial da TV Saúde, vamos discutir como os Agentes Comunitários de Saúde podem se tornar protagonistas da prevenção e da vigilância ativa nas comunidades brasileiras. Uma transformação essencial para reconectar o SUS com o povo.